Acumulam-se cada vez mais nas zonas fronteiriças os turistas
oriundos de toda a Europa procurando férias em Portugal. Vêm de países
onde a situação de vida é muito difícil, tendo por vezes de viver meses
sem ver o céu azul. “Porrtugal lêgau”, responde Erwin Hellmann, de
apenas 82 anos, quando questionado sobre a sua escolha de destino. Preso
no aeroporto Sá Carneiro, espera por uma brecha para tentar sair do
aeroporto. Há cinco dias que se encontra aqui, comendo pacotinhos de
amendoins que trouxe do avião.
Para travar esta onda migratória, o
governo português optou por dar luz verde à construção dum muro com a
fronteira espanhola e em torno dos aeroportos internacionais e portos de
cruzeiros. A obra terá um custo de 51 milhões de euros e deverá
concluir-se nos finais de 2017. “A situação é muito grave e necessitamos
que a Europa tome medidas para controlar esta chegada descontrolada de
turistas.”, diz a Ministra da Administração Interna. “A Europa deve-nos
financiar a construção do muro pois foram as suas políticas de trabalho
excessivo e meteorologia cinzenta que levaram a esta situação humana
gravosa.”
Já os outros líderes europeus queixam-se de que
Portugal tem feito poucos esforços para acolher a vaga de turistas que
assola a Europa do sul. O homólogo espanhol avisa que a Espanha não pode
receber mais e que já se testemunham condições muito difíceis nos
campos de acolhimento em toda a costa mediterrânica. “As imagens
recentes de Benidorm e os relatos de Barcelona fazem prova disso”,
acrescenta.
Mas também nos aeroportos a situação vai-se piorando.
“Diariamente somos confrontados com situações diversas”, diz um dos
polícias destacados para controlar a entrada de turistas, “em que os
turistas nos tentam comprar por um mega-pacote de cigarros, um whisky de
malte de 21 anos ou um perfume da Fabergé.” A pouco e pouco os turistas
vão escapando ao cordão policial, o que terá levado o governo a
decidir-se pela construção do muro em torno dos aeroportos e dos outros
pontos de interface com território estrangeiro.
Nos portos de
cruzeiros repete-se o cenário. “O drama o humanitário aqui é trágico.”
afirma Pedro Dias, um jovem trabalhador num dos muitos estabelecimentos
que acolhem turistas na baixa lisboeta. “As pessoas fogem das condições
muito miseráveis em que vivem no norte da Europa. Pagam valores
exorbitantes para serem transportadas para cá. Se não se trava a saída
deles dos seus países de origem e se não se os deixa afogar no Atlântico
e no mar do Norte, eles não vão desaparecer. É preciso acolhê-los.”
Muitos são aqueles que como Pedro Dias fazem prova de generosidade e
acolhem os muitos turistas de braços abertos. São muitas as vozes que
como a dele se levantam contra o que dizem ser uma atitude racista e
desumana da parte dos governantes do sul da Europa. “Ainda que loiros,
altos e ricos eles são como nós. Querem paz e sossego. Buscam na vida o
mesmo que nós.”
Porém até o próprio custo da obra causa polémica.
”É cara e ineficiente”, defende o Dr. Rogério Proença. O engenheiro
defende que a obra podia ser feita a um décimo do custo se se
aproveitasse o betão das auto-estradas. "Nalguns sítios bastava colocar o
pavimento na vertical. A obra ficava feita em três meses e ficávamos
com uma dezena de barreiras de 8 faixas de altura desde a fronteira
oriental até ao mar.”
Também a oposição crítica o custo da obra.
“Não percebo, bastava fechar os aeroportos”, afirma Mário Freitas,
deputado do Bloco de Esquerda. “Se os aviões não aterrassem, não era
preciso construir o muro.” Esta sugestão já foi apresentada no
parlamento mas foi considerada pela coligação como “absurda e mais uma
prova da cegueira radical e ideológica da esquerda”.
Tudo isto
ocorre numa semana em que Passos Coelho fez os títulos dos jornais
televisivos com um vídeo polémico em que é filmado em Albufeira a
explicar a uma menina inglesa que tinha de voltar para o seu país. “É
preciso compreender que não há lugar aqui para todos.” Após a menina
desabar em lágrimas, o ministro apressou-se a dar-lhe palavras de apoio e
consolação. "Por acaso a ideia de consolá-la até foi minha", conclui.